Transar é uma forma de conversar

Sexo é uma conversa, o que muda é a linguagem.

Quando falamos de sexo e comunicação, geralmente diferenciamos uma coisa da outra: sexo é uma coisa que se faz e comunicação é algo influi na qualidade do sexo. Mas o sexo é em si uma forma de comunicação. Um não empina e o outro se aprochega? Um não vira assim ou assado e o outro já corresponde? Há uma conversa acontecendo em diversos níveis, até mesmo no momento em que um toca a parte do corpo de um outro que, inspirado, retribui.

Sexo é uma conversa não verbal

A conversa sexual é, em sua maior parte, não verbal. A expressão facial, entoação da voz, gestos e toques dão tom à conversa. São eles que afetam o outro e convidam-no o a reagir. Sexo é uma conversa não verbal. O “fala que eu te escuto” da conversa em um bar se transforma, no sexo, em gestos que dizem “vem que eu te intuo”, “vem que eu te recebo”. Para os mais dominantes, que costumam controlar a conversa, seus movimentos dizem “é desse jeito", “me dá isso", “me mostra que eu quero ver”. O “conte-me mais sobre isso” vira um “Continue, isto está me instigando e quero ver no que vai dar”. O “não quero” vira um empurrão, uma cara feia ou, para os que tem medo de desagradar, um engajar-se sem emoção.

Alguns assuntos são fluídos para uns e tabus para outros. Tem pessoas que nos deixam muito à vontade durante o sexo, por saberem conversar sexualmente de forma natural e espontânea. Outras seguem alguns padrões de comportamento menos abertos à influência alheia e a conversa acaba tendo uma delimitação prévia.

Nessa conversa entre corpos - e de almas - ocorrem conversas deliciosas, com intimidade e mútua compreensão. Um confia no outro para mostrar aquilo de mais íntimo de si mesmo. Algumas conversas são leves, rápidas e superficiais. Existem as profundas, em que ambos se surpreendem com aquilo que descobrem. Também existem as conversas truncadas, em que parece que cada um está falando de um coisa diferente. E aquelas que começam animadamente e depois falta assunto?

Existem algumas que parecem um momento sagrado, em que um reconhece o outro no fundo de quem de fato são. Aquelas entrecortadas por pausas para uma risada. As mecânicas, protocolares. E, infelizmente, conversas entre corpos que ocorrem mediante pressão, coerção, violência.

Assim como as possibilidades de conversas sexuais são infinitas, o jeito de conversar de cada um também. Tem o que percebe o ritmo do outro e com ternura o encontra no meio do caminho. Tem aquele que atropela, não se afetando pelo desconforto do outro. Existem os que querem tanto causar uma boa impressão que perdem a autenticidade. O que vai aos poucos se abrindo até ficar à vontade. Ainda existem os afobados, que terminam rapidamente o assunto e ficam sem saber o que dizer.

Tem os que se colocam muito atentos aos desejos do outro e deixam bastante espaço para que ele diga o que e como quiser. Tem aqueles que deixam o outro o rumo da conversa, se colocando de maneira passiva e só esperando o outro parar de “falar”. Tem os que tremem só de saber que é sua vez de falar, são tímidos. Tem aquele que entra na conversa de coração aberto e ajuda a decidir seu rumo, alternando graciosamente entre falar e escutar.

Sim, sexo é como qualquer outro encontro em um certo sentido, mas a conversa sexual é um acontecimento com algumas peculiaridades: toque, distância, linguagem corporal, timing,

Toque

Tocamos alguém com uma ligeira pressão para conduzi-lo ao nosso lado, para dizermos “calma, estou aqui”, para dizer “chegue mais perto” e assim por diante. Toque é a linguagem principal no sexo. Com ele se diz “por aqui”, “assim”, “quero muito você”, “acalme-se”, “faça como quiser comigo”, “eu quero já”, “respire”, “agora vai ser assim!” e muito mais. Onde e como se é tocado numa relação sexual pode dizer muito dos desejos de cada um e de como um percebe (ou não consegue perceber) o outro.

Proximidade

Algumas conversas são dão bem pertinho, quase como se dentro de um casulo. Outras são um pouco mais distantes, com os espaços bem delimitados. No sexo não é diferente, alguns querem fundir-se, outros querem ligar-se por pontos específicos.

Expressões corporais

O que a expressão do rosto diz, o quanto ele está amostra ou coberto por uma mão na boca, a intensidade da respiração. Tudo isso nos afeta. A linguagem corporal é em parte controlável e em parte não. A ereção e lubrificação das partes íntimas, por exemplo, são difíceis de forjar, assim com um sorriso sincero, e dizem muito da sensação de quem está ali.

Timing

Em qualquer conversa, os assuntos vão se transformando um no outro ao longo do tempo. O mesmo se dá nos “assuntos” vividos na cama. Por quanto tempo se fala, qual o momento ideal para dar uma resposta? Sexo é uma atividade temporal. Partes do corpo. se tocadas em certa intensidade, podem resultar em prazer, mas toque-ás por mais tempo e terá desconforto.

Palavras

O que é dito no sexo, além de orientar as ações, podem também realçar o sentido daquilo que esta ocorrendo. Realçam a sensação de se estar em um papel que só pode ser vivido ali, realçam as sensações, o que um é para o outro, o que eu faço com você e o que você está fazendo comigo.

Tom da voz

É o que dá a nuance ao sentido, transmitindo a emoção que o que é dito carrega. Tem a ver com volume, entonação e sonoridade. No sexo, fala-se, suspira-se, geme-se. E como em qualquer conversa o tom de voz pode ser espontâneo ou intencional, natural ou emitido na intenção de esconder algo. Quando desconectado daquilo que se está vivendo de fato, broxa, pois convida o outro a participar de uma encenação. Quando enraizado no tesão do momento, excita.

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