Excitação sexual incoerente

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Quando nossos genitais respondem à situações “nada a ver” ou às quais não gostamos.

O aumento da circulação sanguínea nos genitais (a excitação) é tão involuntário quanto a salivação ou o coração acelerando num susto. Pode ser que você já tenha tido uma súbita sensação nos seus genitais sabendo de um caso de violência sexual, ouvindo uma abobrinha na rua ou com outras situações em que ter tesão definitivamente não fazia sentido. Mas como é isso do corpo dizer que sim e o resto dizer que não?

Cientistas e seus experimentos

Cientistas descobriram um fenômeno curioso que podemos chamar de “excitação sexual não concordante” (arousal non concordance). É quando os genitais discordam da nossa opinião de que algo não é excitante e se excitam mesmo assim. Em uma pesquisa, cientistas mediram o fluxo sanguíneo nos genitais de homens e mulheres enquanto assistiam vídeos com cenas sexuais (inclusive de sexo entre macacos). Os participantes da pesquisa também tinham que dizer quais vídeos consideraram excitantes ou não. E em muitos casos a reação dos genitais dizia uma coisa sobre o conteúdo do vídeo, mas o dono do genital dizia outra. Um achado peculiar foi alguns dos participantes terem aumento do fluxo sanguíneo para os genitais vendo macacos copulando.

Outras pesquisas também verificam fenômenos semelhantes e verificou-se que as mulheres tendiam a apresentar maior discordância. Isso significa que estas pessoas, em especial as mulheres, estavam mentindo? A resposta é que não e isto tem uma explicação.

A diferença entre “sexualmente relevante” e “sexualmente atraente”

Nosso corpo tem uma série de reações involuntárias e nem sempre estas reações determinam se gostamos ou não de algo. Se você morde um queijo e saliva e mais pra frente percebe, com nojo, que o queijo está estragado, isso não significa que no fundo você adora um queijo estragado. Um outro exemplo é o experimento de Pavlov. Nele, um cientista tocava um sino a um cão sempre antes de alimentá-lo. Ao longo do tempo o cão passa a salivar só de ouvir o sino. Isso definitivamente não significa que o cachorro passou a gostar de comer sinos.

Da mesma forma, algo pode provocar um aumento do fluxo sanguíneo para os nossos genitais e ao mesmo tempo ser repulsivo para o resto do nosso corpo. Em outras palavras, um estímulo qualquer pode ser sexualmente relevante sem ser sexualmente atraente.

Sexualmente relevante = aumento de fluxo sanguíneo nos genitais

Sexualmente atraente = aumento de fluxo sanguíneo nos genitais + sentir-se bem

Se seu genital diz “olá” isto não significa que você no “fundo” gosta

Com as descobertas dessas incongruências, há quem se precipite em dizer que então tem um tesão verdadeiro lá no fundo e que as pessoas estão mentindo pata si mesmas. Mas o que determina se gostamos ou não de algo é o quanto nos sentimos bem, não uma resposta fisiológica de uma parte do nosso corpo. Gostar é algo mais complexo, resultado da integração de três sistemas cerebrais: do aprendizado, do prazer e do querer.

Aprender, gostar e querer não são a mesma coisa e podem inclusive estar em conflito. Uma sex educator e ativista americana conta que seus genitais “responderam” quando ela lia uma notícia desagradável sobre um caso de estupro. O que despertou essa reação nela foi o termo “por trás” e, não, ela não gosta de estupro. Esse desencontro entre reação fisiológica, prazer e querer tem a ver com o porquê de algumas vítimas de abuso sexual se sentirem sujas. A memória do genital respondendo misturada às sensações ruins de repulsa pelo corpo não é algo fácil de lidar. "Mas será que eu gostei?". Não, é só uma resposta biológica.

Quem decide o que você gosta ou não é você

Algumas formas de prazer são tabus para o resto de nossas vidas. Algumas delas porque nos parecem repulsivas, imorais ou porque são consideradas crimes. Outras formas passam ao longo dos anos a fazer parte do nosso repertório. Podemos nos sentir ótimos em imaginar viver um certo tipo de excitação com uma pessoa e repulsa em imaginar a mesma excitação com outra. Podemos ter muito prazer com algo em algum momento da nossa vida e deixar de ter em outra. Seu corpo pode responder a um estímulo que se generalizou, mas no fim das contas é no seu bem estar que mora a verdade de se você gostou ou não.

Para saber mais:

Chivers, Seto, Blanchard. Gender and sexual orientation differences in sexual response to sexual activities versus gender of actors in sexual films. J Pers Soc Psychol. 2007 Dec;93(6):1108 — 21.

Chivers, Seto, Grimbos. Agreement of Self-Reported and Genital Measures of Sexual Arousal in Men and Women: A Meta-Analysis. Arch Sex Behav. 2010;39(1):5 — 56.

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